O entrevistado do dia 06/08/14 foi o Senhor Proff Sad.
Segue abaixo transcrição da entrevista que ocorreu online, em nosso grupo do Facebook.
Bia Baccellet: Iniciamos agora mais uma entrevista com o Senhor Proff Sad. Após a apresentação do entrevistado as perguntas estarão liberadas. Atentem para as regras da entrevista e evitar que sua pergunta seja deletada. Senhor, boa noite, por favor apresente-se!!!!
Proff Sad: Boa noite! Sou o Proffsad (um pseudônimo improvisado e um tanto esquisito que adotei ao entrar em espaços BDSM nas redes sociais, mas as pessoas aqui costumam me chamar de "Professor", simplesmente). Tenho 31 anos, três de BDSM como dominador, sádico e autor de relatos. Tenho atualmente uma relação D/s não exclusiva com uma submissa e masoquista, a Ninive.
Bia Baccellet: Uma pergunta é quase de lei por aqui, como conheceu o BDSM?
Proff Sad: Bia Baccellet Cheguei já não tão novo ao BDSM. Publiquei uns meses atrás um texto mais detalhado sobre essa "chegada", mas vou procurar resumir a historia. Há cerca de três anos eu fiquei com uma colega de trabalho numa festa, transamos, dei uns tapas nela, essas coisas que na verdade eu já fazia há muito tempo. Tapas, xingar, puxar o cabelo, imobilizar usando o corpo.... Só que com ela a coisa foi ficando cada vez mais intensa e foram surgindo novos desejos. Nas transas seguintes, comecei a amarrá-la, a disciplina-la, etc. Isso sem saber direito como fazer, e foi aí que resolvemos pesquisar um pouco e fui descobrindo como é o BDSM. Passamos a usar safeword, passei a estudar práticas, etc. Só que por circunstâncias da vida tivemos que nos afastar. Depois disso, continuei pesquisando, me informando, até que conheci minha sub atual, que não tinha experiência nenhuma, e com quem fui descobrindo sempre coisas novas. Então apesar de me considerar praticante de BDSM há alguns anos, só passei a me definir com convicção como um dominador e sádico de um ano pra cá, pois foi aí que ficou realmente claro que é isso que eu sou. Quer dizer, me sinto totalmente realizado nesses papeis e sei, até porque já experimentei, que não tenho a mínima inclinação para ser bottom e que só sexo baunilha não me satisfaz totalmente.
Giselle Audrian: Professor, o senhor concorda que depois de tantos livros serem lançados, tendo o contexto BDSM, atraiu muitos curiosos ou que realmente despertou o interesse nas pessoas?
Proff Sad: Giselle Audrian, acho que a literatura sempre foi um caminho para o BDSM, como também para outras formas de manifestação dos desejos e fantasias das pessoas. Sem entrar no mérito dos livros, que afinal de contas eu não li, acho que é legal que as pessoas tenham contato com a existência de formas de realizar suas vontades de maneira consensual e segura. Quer dizer, claro que uma parte das pessoas vai chegar apenas como curiosa e depois descobrir que aquilo não é pra ela. Que talvez o que ela procura é só um sexo um pouco mais intenso, mais bruto. E isso é totalmente válido. Por outro lado vai ter também as pessoas que descobrem que aquilo é o que querem pra elas. Enfim, considero a literatura uma das formas possiveis das pessoas chegarem até aqui. E seja nisso, seja em muitas outras coisas, a literatura pode servir às fantasias humanas.
Cammy Veras: De quais práticas vividas tens mais orgulho? Quais deseja realizar
Proff Sad: Cammy Veras, considerando que sua pergunta é por práticas que me dão orgulho, eu digo que são aquelas que requerem mais habilidades, cuidados, dedicação. E nisso acho que são duas: dominação psicológica e shibari. Quanto a dominação psicológica, já fiz coisas que me deixaram bastante surpreso com minha capacidade de conduzir uma pessoa mentalmente, é algo que venho experimentando cada vez mais e aprimorando. Quanto a shibari, sou um iniciante, sei muito pouco, mas me dá um orgulho enorme ver a beleza das coisas simples que já consigo fazer. Espero aprimorar e ter ainda mais orgulho disso. Quanto ao que desejo realizar (excluindo, portanto, o que já fiz até hoje), acho que o que mais me atrai é entregar minha sub para o uso de outro homem. É algo que tenho vontade e que um dia pretendo realizar.
Simone Ana: Como Top, qual seu ponto de vista de esclarecer também os limites do dominador durante a negociação com o bottom? ou acha desnecessário sendo que esse conduz as situações?
Proff Sad: Simone Ana, considero que os limites do dominador importam muito menos numa negociação por uma qustão simples: é ele quem definirá o que fazer e que controlará a situação, logo o que ele não quer ele simplesmente não faz. Já para uma pessoa que é bottom (uma sub, no caso), limites são vitais. Quer dizer, eu costumo informar as práticas que não aceito fazer, mas é apenas para evitar frustrações na sub, já ela me dizer o que não aceita tem uma importância fundamental para a relação.
Bia Baccellet: Pratica a Dominação Psicológica? Se sim, como faz pra definir o limite entre o consensual(quando o bottom consente conscientemente) ou o que faz parte de seu "poder" psicológico(quando o bottom inconscientemente consente)?
Proff Sad: Bia Baccellet, a questão é beeeem complicada. Antes de mais nada, minha leitura disso, que vem das experiências que tenho, é a de que dominação psicológica é uma das práticas que, para serem realizadas com intensidade, requerem certo amadurecimento da relação. Quer dizer, eu preciso conhecer como é minha sub num estado "normal", como ela fica quando tensa por conta de práticas intensas, como ela fica quando precisa parar, etc. Não é algo que eu faria, pelo menos no nível que faço com minha sub, com alguém que acabei de conhecer. Dito isso, nossa receita tem sido a do diálogo. A conduzo a uma situação em que ela fica totalmente à mercê da minha vontade, depois a devolvo a autonomia sobre si mesma e conversamos sobre aquilo que acabamos de vivenciar. Nessas conversas é que se define o que ela de fato quer vivenciar ou não numa situação como esta. Há submissas que gostam de perder todo o controle sobre si e este é o caso da minha, mas pra fazê-lo foi necessário construir uma relação intensa, amadurecida e baseada em muita confiança e diálogo.
Simone Ana: uma questão um tanto em voga...e justamente por isso muitos têm se dado conta de ja ter passado por isso ou nao. Subspace... já lidou com uma situaçao dessa? em que nível? como conduziu?
Proff Sad: Simone Ana, sim, já lidei com subspace em algumas ocasiões. Primeiro, de uma forma mais leve numa sessão de spanking. Como era a primeira vez, fiquei um pouco assustado, mas como já havia lido um pouco a respeito soube que era hora de parar e acalmar as coisas. Depois disso, aconteceu um subspace mais intenso após uma breath play. Além de ficar alheia à situação, a sub começou a chorar sem que interagisse comigo. Cuidei calmamente dela, me aproximando, abraçando, interagindo com bastante tranquilidade, até que aos poucos ela voltou à realidade. Isso ocorreu mais algumas vezes até que veio a aparecer inclusive numa sessão sem dor física intensa nem asfixia, era uma sequência de cenas de humilhação e degradação. Foi o mais profundo que ela teve e demorou para que ela voltasse a interagir. Enfim, o que eu acho sobre subspace é que pode trazer momentos incríveis de "transe", mas que é vital entender que ao primeiro sinal de que se chegou a ele se deve parar e cuidar da sub. Quer dizer, não é algo pra ficar "brincando", não é um estado pra ser explorado porque isso comporta riscos. A regra é: percebeu que chegou ao subspace, pára e começa a trazê-la de volta calmamente.
Simone Ana: hummm interessante a citação que fez com relaçao ao que pretende realizar um dia ( entrega da sub para uso de outro homem)... Realizaria, aplicaria na sub em contexto de satisfaçao sua deixando isso claro a ela...ou como aplicacao de castigo? para sentir a psicologia da coisa?
Proff Sad: Simone Ana, essa minha fantasia tem mais o caráter de uma demonstração de posse e de objetificação do que de um castigo. A ideia é que ela é tão minha, mas tão minha, que eu posso emprestar pra quem eu quiser, mantendo sempre o poder sobre ela. E ao mesmo tempo ela é a ideia de que ela é apenas um brinquedinho e não uma pessoa com vontades e autonomia. É mais por aí...
Marcia Leite: Boa noite..qual sua opinião sobre sessao virtual?
Proff Sad: Marcia Leite, acho que pra quem gosta deve ter seus encantos, mas não é pra mim. Eu gosto de pele, toque, cheiro, olhos nos olhos... Posso até fazer algumas brincadeiras virtuais de vez em quando, dar umas ordens e tal, mas se uma relação fosse só isso eu nem entraria nela.
Giselle Audrian: Professor, já ouvi rumores de que alguns Dominadores, cobram para ensinar, e outros exigem que sua sub fique responsável por todas as despesas das sessões, qual seria a opinião do senhor sobre esse assunto?
Proff Sad: Giselle Audrian, cobrar pra ensinar conhecimentos técnicos, na forma de uma aula ou oficina, eu acho muito válido. Por exemplo, eu estou começando a aprender shibari graças a uma oficina paga que fiz com um especialista, e acho muito justo que ele receba pelo trabalho de preparar a oficina, sua didática, os materiais, etc. Quanto a subs pagarem os custos das sessões, acho que desde que isso seja de interesse de ambos e desde que isso seja colocado na negociação tudo bem. Eu não gosto da ideia, mas isso é questão de gosto, de eu não ter qualquer fetiche relacionado a dinheiro, nem nada disso, mas não acho que seja em si algo errado...
Bia Baccellet: Pegando um gancho na pergunta de Marcia Leite, qual seu parecer sobre a prática virtual? Me refiro a relações puramente virtuais, sem contato real. Considera essas práticas BDSM?
Proff Sad: Bia Baccellet, não sei dizer se puramente virtual é BDSM. Assim, é algo que não tem nada a ver com minha vivência de BDSM, com aquilo que eu de fato conheço. Então, por um lado eu acho que faz pouco sentido falar em relação de poder, em imposição de uma pessoa sobre outra, se não há presença física. Quer dizer, é dificil pra mim imaginar isso como BDSM. Por outro lado, tenho uma certa hesitação em julgar, nas relações alheias, o que é ou não BDSM. Não quero ditar regras pra ninguém rs
Giselle Audrian: Professor, qual é a sua prática preferida ? Aquela que ñ pode deixar de acontecer, e caso seja negada, qual seria o castigo aplicado ?
Proff Sad: Giselle Audrian, pra falar de práticas, acho bom fazer um parênteses. Práticas podem ser uma delícia isoladamente, mas meu maior prazer está na própria relação de poder, em ter o corpo e a mente da submissa sob o meu controle e sob minha autoridade. Então dentro disso meus interesses vão variando a depender do momento e de acordo com o que defini para determinada sessão. Gosto de treinar e disciplinar, gosto de sadomasoquismo (spanking, velas, prendedores, etc.), gosto de bondage (mas só ultimamente estou aprendendo shibari), gosto de privação dos sentidos, gosto de dominação psicológica, gosto de rapeplay e fearplay, gosto de objetificação, gosto de humilhação e degradação, gosto de sexo violento, gosto de breath play (com os devidos cuidados), gosto de forçar orgasmos até a exaustão, gosto de usar não só meu corpo (boca, dedos, pau, etc.) mas tb brinquedos os mais diversos para estimulação da sub (principalmente com ela imobilizada), gosto de golden shower, gosto de receber deepthroat e beijo grego, gosto de foder a garganta fazendo engasgar (throatfuck), enfim, a lista é imensa.... Mas é isso: meu tesão tá na relação de poder e as práticas são usadas como variações disso. Não que eu não goste das práticas isoladamente, mas elas realmente me realizam quando estão num contexto, quando estão inseridas numa relação em que eu sou dono da minha sub e faço dela o que eu quiser. É isso que mexe comigo. Dito isso, se é pra escolher uma coisa que dificilmente eu passaria sem, é throatfuck rs
Proff Sad: Giselle Audrian, percebi que não respondi sobre o castigo. Bom, eu gosto muito de castigos físicos, mas ao mesmo tempo eles podem ser ineficazes com masoquistas rs. Então o castigo depende do que eu pretendo com ele. Quer dizer, se é algo de pouca importância, eu dou um castigo que a sub pode inclusive ter prazer (como um spanking pesado, no caso da minha). Se é algo que eu quero que realmente ela pense duas vezes antes de fazer de novo, eu dou um castigo que sei que ela vai ficar muito contrariada em receber. Por exemplo, já fiz uma sub preencher um caderno escolar inteiro com a frase "Prometo que não serei malcriada nem irei desrespeitar as instruções do meu dono". É bem educativo, convenhamos... rs E tinha que ser professor pra fazer isso....
Marcia Leite: Qual sua opinião sobre sw?
Proff Sad: Marcia Leite, sw pra mim é uma forma de viver o BDSM como outra qualquer. Ninguém é mais ou menos BDSMer porque é sw e eu teria tranquilamente sessões com sw. Apenas não sou um, quer dizer, tenho certeza que meu negócio não é ser submisso e tenho certeza que não gosto de sentir dor. Então, sendo sub comigo eu não tenho o menor problema que a pessoa seja o que quiser fora da sessão...
Simone Ana: Cenas públicas...até que ponto acha viável a execução delas ( até que nível deve ser permitido) ... Deve variar de acordo com o tipo de publico?
Proff Sad: Simone Ana, acho que pras cenas públicas o que vale é não fazer nada que possa trazer insegurança para os envolvidos ou para terceiros, além de não desrespeitar quem não tem nada com isso. Como em tudo no BDSM, isso é algo que requer alguns limites específicos. Mas assim, como é algo que só pratiquei de forma leve, não sei se sou a pessoa mais adequada para esclarecer sobre esses limites de forma mais precisa.
Giselle Audrian: Depois da sua resposta, até esqueci da pergunta que estava fazendo, enfim... improvisaremos... Professor oq é para o senhor, essencial numa sub? No quesito aspecto físico, quais seriam as suas preferências ?
Proff Sad: Giselle Audrian, por incrível que pareça a resposta da primeira parte da sua pergunta não tem, pra mim, muito a ver com a resposta da segunda. Quer dizer, não são físicos os aspectos essenciais que avalio numa sub, tanto é assim que nunca pedi fotos numa negociação, a não ser que a sub peça uma minha. Me interessa, isso sim, é saber se ela está de fato disposta a se entregar com corpo, mente e vontade. Importa também saber se é uma pessoa sexualmente "quente". Em bom, português, eu gosto de subs com uma mente safada rs. Que imaginem coisas perversas, que gostem de ideias as mais imorais. É questão de gosto meu, é claro que uma sub do tipo mais "inocente" é tão sub quanto uma "safada", mas é destas que eu gosto mais.
Rose Mouha: Professor a dominação psicológica é algo realmente mt intenso, na vdd tudo no BDSM é intenso. Mas quais são suas fontes de inspiração quanto a isso?
Proff Sad: Rose Mouha, as fontes de inspiração podem ser as mais inesperadas. Dou um exemplo. Numa sessão que tive há pouco tempo, fiz minha sub colocar, ao entrar no meu carro, um par de óculos escuros totalmente vedados por fita preta, não permitindo que ela enxergasse para onde estávamos indo. Isso é algo que foi a deixando muito fragilizada, antes mesmo que chegássemos no local da sessão. Aí vc me pergunta: de onde veio a ideia? E eu respondo: de filmes de gangsters hahaha
Lucy De Daniel: boa noite, Professor. minha história de iniciação no BDSM é um pouco parecida com a sua e me identifiquei com a progressão das coisas, mesmo sendo submissa. eu queria saber um pouco sobre como você se sente em relação a essa descoberta. sente que se encontrou? que desvendou uma parte de si que estava adormecida? consegue imaginar sua vida sem o BDSM?
Proff Sad: Lucy De Daniel, sim, eu sinto que me encontrei e é dificil imaginar minha vida hoje sem BDSM. Quer dizer, depois que vc se descobre no BDSM começa a reler a sua vida antes disso deste ponto de vista e começa a achar que muitas coisas já eram indícios dessa inclinação. Mas eu não sei até que ponto é isso mesmo ou sou eu, hoje, que estou atribuindo sentidos diferentes ao que pensava ou fazia antes. Exemplo disso é que eu sempre gostei de pornografia agressiva e envolvendo humilhação. Coisas como throatfuck, tapas, até mesmo golden shower. Mas eram coisas que eu via, fantasiava mas pensava comigo mesmo que era só uma fantasia íntima, que é óbvio que eu nunca ia vivenciar aquilo, afinal de contas que mulher nesse mundo ia querer que eu a fizesse engasgar ou entao que eu mijasse nela hahaha... entao, depois que eu descobri o BDSM fui percebendo que certas tendencias vêm me acompanhando desde muito novo... Mas eram só tendencias, pois viver o que estou vivendo é uma ruptura muito grande na minha sexualidade, entao muda a percepção em varios sentidos e é uma porta que se abre que eu não vejo muito como fechar. Talvez seja - mas talvez não - para a vida toda.
Thiago Sven: Proff Sad ainda estou iniciando a minha carreira como sub, mas tenho ouvido muito falar-se no efeito subspace após as sessões, vivenciado por subs femininas, as quais relatam esse estado de transe ja referido. Talvez até por não ter muito contato com subs do gênero masculino, nunca ouvi falar desse efeito neles, embora soube de um caso em que o sub sumiu...kkk, mas não tive oportunidade de concluir se foi essa situação que ocorreu com ele. Minha Domme e sua mentora participam ativamente desse grupo e não é minha intenção incentivá-las a mudar o comportamento comigo, por exemplo, intensificando as chicotadas..kkk, acho que elas sabem o que fazem e que são ótimas Dommes. Até acho que já pegaram pesado comigo no spanking, por exemplo, e na minha concepção nunca entrei no subspace, que nesse caso, relatam as amigas subs que é um estado que depois de um tempo de spanking, por exemplo, ja nao sentiam mais a dor e entravam em transe, o que não foi o meu caso, já que me mantive bem consciente pra sentir toda aquela dor. Para se atingir o subspace, na sua opinião, é necessário intensificar a dor até o nível em q se atinja níveis em que o processo químico ocorra ou simplesmente é uma característica de algumas pessoas frente a momentos de alta adrenalina, mais comumente ocorrido em subs mulheres?
Lucy De Daniel: o que pensa das sessões que não envolvem sexo? seu lado sádico aceitaria fazer sessões com submissos homens?
Proff Sad: Lucy De Daniel, vamos por partes. Primeiro, quanto a BDSM e sexo... A relação entre BDSM e sexo pode variar muito, desde uma situação em que são coisas totalmente separadas, em que o prazer das práticas não é de natureza sexual, até uma situação em que o sexo é essencial para o prazer. Isso depende dos desejos dos envolvidos e do acordo entre eles. Falando do meu caso específico, não separo BDSM de sexo porque o prazer que tenho nas práticas, tanto de dominação quanto de sadismo, tem muito de sexual. Mas assim, sexo em sentido amplo, não só penetração. Eu viveria uma D/s em que não transássemos, mas não uma D/s sem, por exemplo, sexo oral de ambas as partes. Nunca tive uma sessão sem orgasmos, mas já tive sessão sem penetração. Enfim, vejo a relação entre BDSM e sexo como extremamente variável a depender das pessoas, sendo que no meu caso específico não gosto de separá-los.
Proff Sad: Lucy De Daniel, agora a segunda parte, que talvez surpreeenda algumas pessoas. Eu não só dominaria homens, no caso crossdressers/sissys femininas e submissas, como faria praticas sexuais (e, talvez, sexo). Ocorre que eu não sou exatamente hétero. Minha sexualidade mudou muito no decorrer da vida e por isso eu acho provável que continue mudando. O que se mantém há muito tempo é o gosto por estar numa posição superior na hora do sexo, pois mesmo antes do BDSM eu me excitava, por exemplo, com a ideia de humilhar outra pessoa enquanto transo. Desde que descobri a dominação, a única certeza que tenho quanto à minha sexualidade é que sou top. Quanto à orientação sexual, a coisa sim é variável. Já senti atração e tive algumas relações com homens, especialmente na adolescência, mas tanto afetivamente quanto sexualmente sempre predominou o desejo por mulheres. É interessante que em termos afetivos e amorosos nunca sequer cogitei ter algo com um homem, nunca me apaixonei por um cara, nem quis ter um relacionamento, nem nada disso... Quando rolou algo, foi apenas sexo casual. Faz coisa de uns 7 ou 8 anos que passei a me definir como bissexual, inclusive me abrindo sobre isso nos relacionamentos baunilha que tive e com os amigos mais próximos. No BDSM, defino minha orientação sexual nos termos do FetLife como heteroflexível, pois além de mulheres me interesso por crossdressers femininas e submissas, ainda que nunca tenha tido experiência com uma. Então a questão é que me atraio geralmente por mulheres, mas não excluo a possibilidade de vir a dominar sissys/crossdressers. Acima de tudo, o que me atrai é a relação de poder.
Simone Ana: a propósito de escravos, e não submissos, até que ponto voce enxerga que realmente uma relação D/s 24/7 com um (a) escrava NÃO o torna também um escravo deste?
Proff Sad: Simone Ana, nunca vivenciei nada que chegasse perto de um relacionamento 24/7 e sendo assim não sei muito bem como te responder. O que acho é que uma relação como esta deve absorver muito das energias das pessoas, o que é algo que eu não estaria disposto a viver. Gosto de ter minhas (muitas) outras atividades na vida e praticar BDSM em dias específicos, nos quais me isolo do mundo e vivo apenas aquilo.
Giselle Audrian: Professor, o senhor é de reagir na hora ou no momento certo ? Caso sua sub faça algo que ñ gostou, e o senhor ñ pode castiga-la no momento, o senhor deixa passar ou a puni mesmo assim ?
Proff Sad: Giselle Audrian, eu deixo punições bem guardadas pra depois sim hahah. Se, por exemplo, minha sub resolve ser malcriada quando não está comigo eu vou pensando numa forma de puni-la da proxima vez que a encontrar. Não costumo deixar passar essas coisas, o que pode acontecer é eu dar um castigo que não é assim tão castigo, já que pra uma masoquista apanhar pode se parecer mais com um prêmio rs
Giselle Audrian: Então o senhor seria do tipo maquiavélico ? Rs
Proff Sad: Giselle Audrian, tem horas que sou bem maquiavélico, e tem horas até que eu faria o Maquiavel parecer um anjo de candura hahaha
Giselle Audrian: Professor, o senhor já disse ñ ter relações exclusivas, mas irmãs de coleira oq o senhor diria ? Acha q poderia ter rivalidade ou coisas do gênero?
Proff Sad: Giselle Audrian, acredito que seja complexo lidar com uma relação com "irmãs de coleira". Quer dizer, não é apenas uma relação de um dom com cada uma das subs, é uma relação a três na qual o poder se concentra em um. Acredito que seja muito difícil lidar com questões, como, por exemplo, o maior amadurecimento da relação entre o dom e uma das subs do que da relação do dom com a outra. Deve ser difícil para as subs lidar com isso e pode criar um ambiente de concorrência. Pra mim, sem dúvida, isso não serviria, eu não gostaria de lidar com este tipo de questão. Mas assim, são só palpites, porque nunca tive relações exclusivas, seja com uma, seja com duas ou mais subs.
Simone Ana: Mencionou que gosta muito de shibari. Eu tambem... e como sw vivencio os dois lados da corda. Eu sinto falta de cursos voltados para shibari no Brasil. tem sentido essa dificuldade tb?
Proff Sad: Simone Ana, eu realmente gosto de shibari, mas como disse antes sou um iniciante. Comecei vendo videos tutoriais e testando as amarras mais simples que existem, depois fiz uma oficina com um especialista (que posso indicar pra quem quiser) e agora estou novamente estudando com videos e colocando em prática a cada sessão. Ontem fiz minhas primeiras amarras um pouco mais elaboradas sem a supervisão de ninguém e não é a toa que pensei nisso quando me perguntaram sobre algo que me da orgulho. Foi maravilhoso ve-la imobilizada na exata posição que eu queria e ainda de uma maneira esteticamente tão bonita. Então, quanto à sua pergunta, não me deparei com essa dificuldade em achar fontes de instrução porque logo apareceu esta oficina que foi muito útil.
Giselle Audrian: O senhor alguma vez já perdeu o controle da situação ? Ou sempre foi tudo muito bem pensado e planejado ?
Proff Sad: Giselle Audrian, coisas já deram errado sim. Por exemplo, eu iniciar uma sessão de forma muito intensa e agressiva num dia em que a sub já está estressada por problemas da vida e ela já não suportar logo no começo. Coisas assim acontecem e a questão é saber lidar e aprender. Saber lidar é ter consciência de que é hora de cuidar dela e não de continuar a sessão a qualquer custo, e é também saber aproveitar o dia que reservamos pra isso. O resultado é que um dia que tinha tudo pra dar tudo errado foi maravilhoso. Não foi uma sessão, mas abrimos um vinho, ouvimos música, jogamos conversa fora e fizemos sexo loucamente o dia todo... No final, nem parecia que algo tinha dado errado... Aprender é, a partir dessa experiência, apurar a percepção de quando posso ou não chegar de forma intensa e violenta. As pessoas tem uma vida para além do BDSM e as vezes esta vida é bem conturbada em certos momentos. Então uma D/s não envolve só bater na minha sub, envolve também cuidar dela, verificar se está tudo bem, acolher e ser compreensivo sempre que necessário. Se é o caso de punir, mas não é a hora de punir, eu guardo o castigo pra uma hora mais apropriada...
Para visualizar a entrevista na íntegra, clique no link abaixo:
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