sábado, 28 de março de 2015

BRATS

Muito se fala das tais brats, citados como sendo uma espécie de submisso rebelde que apronta de tudo para perturbar e receber castigos de seu dono. Vamos desmistificar. 

O que é um brat?

Brat é um tipo de bottom focado na Disciplina. Não são submissos pois não sentem prazer em se submeter. Seu prazer consiste em provocar o Top de diversas formas, de acordo com sua personalidade, bem como impor resistência durante as sessões, mas sempre mantendo o respeito à limites do parceiro. Essa provocação já é algo esperado pelo Top, pois faz parte do jogo de disciplina, e este, então, reage à provocação "castigando o bottom" (praticando então o sadomasoquismo e/ou bondage).
A palavra "brat" é de língua inglesa e significa "fedelho ou pirralho(a)".
A origem desse bottom remete a prática do ageplay, mais precisamente ao infantilismo e a efebofilia - que dentro da cronofilia seria atração por adolescentes - onde o Top e o bottom realizam um roleplay nos papéis Daddy Dom ou Mommy Domme e Little Boy ou Little Girl. O brat surgiu como uma criança/adolescente bastante arteira e mimada interagindo com o Top em várias situações de malcriação e castigo, causa e consequência, etc. Na prática do ageplay encontramos as maiores referências aos brats, incluindo a cena clássica de punição onde o Top, sentado numa cadeira tendo o bottom brat de bruços em seu colo, dá fortes palmadas na bunda deste, por vezes com a nomenclatura "spanking the spoiled brat" (batendo no pirralho birrento).

Por que brat não é um tipo de submisso? Sempre leio isso por aí.

Brat não é submisso porque não tem prazer algum específico na submissão. Obedece quando quer, quando lhe é conveniente ou quando está sendo subjugado, mas dificilmente porque alguém espera que ele obedeça. Esse não é seu papel, foge da sua essência. O brat sempre vai tentar tirar partido das situações, da forma que mais lhe favoreça. Exemplos: um brat masoquista sempre vai tentar conseguir mais punições dolorosas pra se satisfazer, e vai usar de seus ardis pra irritar o Top se for preciso, seja questionando sua posição, seja questionando seus métodos ou a sua capacidade para certos feitos e falhando em tarefas. Aliás, questionar faz parte da provocação típica de alguns brats. É o típico: "Me domine se for capaz!". Um brat no bondage vai estar sempre tentando se soltar. No shibari, de vez em quando vai se mexer e tentar desfazer o trabalho de seu Top. No petplay vai ser um animal dificil de amansar, ou esnobe demais, ou excessivamente carente a ponto de irritar, ou preguiçoso a ponto de não querer brincar e etc. No military fetish corresponde a um soldado que falha ou questiona ordens.
Mas por que brat não é submisso?
Simples, um ser que desobedece e provoca sempre que vê oportunidade pode ter alguma essência submissa?! Submissos são focados em Dominação e submissão (D/s), brats em Disciplina (D). Logo, não devemos nomear como sendo submisso quem não está nem aí para a submissão. No entanto? Brat NÃO é um Bottom que desrespeite seu Top, que faça coisas fora dos limites deste, que ponha em perigo uma cena com elementos arriscados (velas, fogo, agulhas, facas, etc.) nem alguém que na relação vá abusar de seu parceiro minando sua paciência.

E os tais submissos rebeldes? São brats?

Não! Muitos Dominadores chamam de “bratty subs”, até de forma pejorativa, mas são Submissos que, por algum motivo, se rebelaram contra seus tops, passaram a agir de forma não esperada e/ou quebraram a hierarquia. “Submissos rebeldes” normalmente teriam prazer em submissão. Se o motivo for puramente pirraça ou algum "teste", estes Subs aprontam com seus Tops mas logo se arrependem retornando ao seu comportamento normal, sendo a rebeldia um estado momentâneo, passageiro. Um brat, em contrapartida, provoca e sente prazer em ter provocado. É parte do seu prazer e de sua maneira de proceder em cena.
Em outros casos, trata-se de reação normal de revolta e/ou imposição de limites, quando o Top gera algum tipo de insatisfação por falhar em dialogar na relação, desrespeitar seus limites, fomentar ciúme e/ou receios com irmãos ou irmãs de coleira, ter má conduta dentro do meio BDSM, ameaçar ou praticar o abandono do bottom, desrespeitar seus sentimentos e/ou objetivo do relacionamento, etc. – o que, nesse caso não é rebeldia, mas um protesto coerente.
Há também as situações em que foi colocado como submisso um Bottom SAM a característica de sentir prazer na Submissão, ou que talvez tenha preferência por uma submissão mais branda ou somente em cena, ou ainda um Switcher – ou alguém que esteja se descobrindo um Switcher - com vontade de praticar seu lado dominante de alguma forma e, por consequência, sentindo-se tolhido. E então este Bottom não aguenta a situação a longo prazo e protesta, sendo esta uma situação em que houve erro de um dos parceiros (ou de ambos): falta de entendimento mútuo, empolgação demasiada, O rótulo foi imposto pelo Top ou ainda houve tentativa de "agradar o Top à qualquer custo" por parte do bottom. E - claro - não nos esqueçamos do famoso SAM (Smart assed Masochist) que seria uma pessoa masoquista porém não-submissa colocada no papel de submisso e que na realidade vai tentar mandar na cena e/ou no Top, agindo como um "espertinho" no mau sentido. (E este não é um Brat... Aqui teríamos uma pessoa que se sairia muito melhor como Masoquista-não submisso, Dominador Masoquista ou coisa parecida, mas que age de forma manipulativa adotando o rótulo de submisso OU trata-se de alguém que foi colocado erradamente no papel de submisso por um Top inapto em reconhecer seus traços.)
Ou seja: subs rebeldes não são brats. São apenas subs agindo de forma que seus donos não compreendem e, portanto, recebem apelidos que seus Tops considerem pejorativos.

E por quê uma boa parte dos Tops não gosta de brats, ao ponto de usarem o termo pejorativamente?

A maioria dos Tops brasileiros se identifica com o tipo Dominador (Dom) e a maioria dos bottoms se identifica como sendo submissos (subs). O tipo Dom não é nem de longe o ideal para um brat. Brat não dá certo em D/s, pois a intenção do Dom será a de tentar “converter” esse brat num tipo submisso, coisa que não está na essência e nem nos planos deste bottom. É um cabo de guerra sem fim, onde um vai ficar medindo forças com o outro e não vão chegar a lugar algum. Geralmente se torna uma relação bastante aborrecida de se viver. Na maioria das vezes que Top do tipo Dom diz que não gosta de brats, é devido a dois motivos:
1- Se interessou por uma e depois se deu mal porque quis transformar ela numa submissa. 2- Ouviu outros Doms dizerem que não gostam de brats e resolveu recitar o mantra sem nem ao menos entender que nem só de Dom e sub, vive o BDSM.

E qual é o Top que gosta de brat?

É o Tamer! Tamer significa "domador" em inglês. É um Top que não sente prazer na sessão em dominar, mas sim em disciplinar constantemente uma pessoa rebelde. Por vezes gosta de sentir-se "castigando-a" com as práticas. E tudo isso faz parte da mecânica da Disciplina. Nesse ponto a Disciplina de um Brat é muito mais baseada nos "castigos", e são estes que criam contextos para a prática de Sadomasoquismo ou Bondage (dentro dos limites e das preferências do Brat). Estas práticas, aliadas à sensação de punição, são parte do jogo entre Brat e Tamer . Enquanto que a Disciplina com outros tipos de Bottoms geralmente coloca suas práticas favoritas e alguns agrados como "prêmios" para suas ações, e como "castigos" coisas percebidas como enfadonhas (colocar o Bottom sentado sozinho em um canto) ou que não sejam suas favoritas mas que estejam ainda assim dentro de seus limites.
Quem geralmente se torna um bom Tamer?
Tipicamente quem não goste de bottom muito submisso, escravo ou obediente demais. Que esteja disposto a conhecer e respeitar esse bottom da forma que ele é. Que entenda e goste desse jogo de disciplina sem ambicionar, posteriormente, transformar esse bottom em algum outro tipo que lhe agrade mais. Quem aspira a se tornar um Top desse tipo deve também entender a diferença básica entre ter um bottom que se submete a ele (Submisso) e ter um bottom a quem ele deve subjugar (Brat). O submisso oferece sua submissão ao Top prometendo ser obediente, bom submisso, servil, gentil, e etc. O brat não tem submissão nenhuma pra oferecer, sendo parte da mecânica da relação o Top ter que subjugá-lo para que este se dê por vencido. E quando consegue isso, é algo temporário. Não existe promessa de obediência por parte do brat. Quando menos se espera, mais cedo ou mais tarde, ele aprontará outra vez, e outra vez, e outra vez.

É possível trabalhar Brats e Subs na mesma sessão?

Sim. Em primeiro lugar, o Top logicamente precisa compreender e apreciar ambas as mecânicas (ser Tamer e Dominador). Em segundo? Combinar a sessão para que todos ajam dentro de seus papéis SEM que o brat atrapalhe a interação do Top com o Submisso. Em terceiro? Aproveitar a sinergia na qual: - As interações com o Submisso, aonde ele obedece o Top à risca e recebe as práticas, geram contexto para o Brat se rebelar quando for a vez dele. - As interações com o Brat, aonde ele se rebela e é "punido" por sua audácia, geram ao Submisso uma impressão maior ainda de poder do Top.

Autores: Lili Leverdi e Don Marco Alighieri

17 comentários:

  1. Olá... gostaria de saber se existe um outro meio de conato que não sejam os comentários, pois gostaria de falar de um assunto particular. Se for possível, agradeço.

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    1. Pode fazer contato acessando o contato do gmail dos nossos escritores, ou entrando em nosso grupo no facebook.
      https://www.facebook.com/groups/233584086812714/?fref=ts

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  2. Eu acredito que o link de Contato do blog nçao esteja funcionando porque tentei várias vezes sem sucesso. Gostaria de um outro meio que não fosse o formulário de comentários. Grata!

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    1. Pode fazer contato através de e-mail, clicando no contato de nossos escritores ou entrando em nosso grupo do facebook.
      https://www.facebook.com/groups/233584086812714/

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  3. Acredito que o brat seja um obstáculo intransponível para um Dominador, mas tambem um encanto, um desafio, algo fascinante.Dominar alguem que e basicamente submisso e uma tarefa facil, desde que com tacto.Agora alguem que e sempre desafiante, julgo ser como um filho reguila...De qq maneira esta tudo muito eloquente, facilmente entendivel . Parabens e felicidades para este sitio

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    1. Brats não são bottoms adequados para dominadores, a não ser que estes também gostem de disciplina e de desafio. São perfis bastante conflitantes e o desafio pra um dominador tentar dobrar uma brat e submetê-la pode se transformar em frustração.

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    2. Pode,mas vejo-o como uma materia muito sensivel, de dificil manuseamento por um artista,sendo que,na minha maneira de ver, por ser tao dificil, atingir o desiderato e um feito que me valoriza como homem e Dominador....nao perante os outros mas perante mim mesmo e a minha "escultura"

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  4. Então se o desafio o instiga e motiva, é a motivação certa pra querer esse tipo de bottom. ;)

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  5. Eu sou brat e meu desejo é encontrar um Tamer que respeite o que sou e não ache que sou uma pirralha como ja me falaram. Materia otima, bem escrita e que serve de ententidmento para muitos que não compreendem esse tipo de bottom.

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    1. Estou iniciando minhas pesquisas no bdsm e acabo de descobrir que sou uma Brat. E entendo suas palavras. Não somos pirralhas, somos rebeldes.

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    2. A beleza da relação Tamer-Brat é exatamente a tensão. No plano da realidade a Brat nunca será submetida, o Tamer nunca conseguirá terminar seu trabalho de domar. O jogo ideal é quando ambos cedem, muito sutilmente um pouco aqui e ali, retomando o controle/rebeldia adiante.
      Essa tensão, bem administrada pode durar anos - vidas até - sem nunca ficar monótona. A chave é o bem conhecer das partes.

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  6. Senhor Anônimo adorei seu comentário estou iniciando no BDSM e um amigo Dominador me chamou a atenção para esse lado meu Brat, lendo mais sobre o assunto parece ser isso mesmo e só espero encontrar alguém pra dividir,bjs

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  7. Não faço parte do BDSM,mas estou sempre procurando entender.

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  8. muito bom e queria saber mais sobre as disciplinas de um TAMER

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    1. Não existem "disciplinas" de um tamer. A disciplina é aplicada no jogo, de acordo com o que é acordado entre as partes e a vontade do Top.

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  9. Me descrevendo������

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  10. Citando o seu artigo no meu blog, adorei.

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