Texto de Vulpes Az
As relações dentro da prática BDSM baseiam-se, essencialmente, em dinâmicas hierárquicas e de troca de poder (total ou parcial). Muito se discute sobre as relações, principalmente a relação D/s (ou seja, relação Dominador e submisso) mas pouco se fala dos elementos essenciais que compões tais relações.
As relações dentro da prática BDSM baseiam-se, essencialmente, em dinâmicas hierárquicas e de troca de poder (total ou parcial). Muito se discute sobre as relações, principalmente a relação D/s (ou seja, relação Dominador e submisso) mas pouco se fala dos elementos essenciais que compões tais relações.
O primeiro elemento é a HIERARQUIA, que nada mais é que uma ordenada distribuição de poderes com subordinação sucessiva de uns aos outros, é uma série contínua de graus ou escalões, em ordem crescente ou decrescente. Onde se estabelece, sistematicamente, a importância, graduação ou valor de um(ns) elemento(s) em relação à outro(s).
Em um contexto fetichista, é uma ordenação contínua de autoridade que estabelece os níveis de poder e importância dos indivíduos envolvidos na relação hierárquica, de forma que a(s) posição(ões) inferior(es) (bottom) é (são) sempre subordinada(s) à posição superior (Top), que detém poder de voz (ou de mando) e de obediência.
Originalmente, o termo hierarquia possuía um significado religioso, onde a organização social das igrejas levou à formação de hierarquias cuja graduação era intangível por derivar da autoridade transcendental de cada camada social. Esse sentido religioso perdeu-se nas demais estruturas hierarquizadas, mas nelas sobreviveram a rigidez da graduação e a observância estrita das atribuições de cada autoridade existindo vários tipos de hierarquia como a militar, social, empresarial, familiar, etc.
Podemos dizer que a hierarquia é a relação, per si. Já a dinâmica entre os indivíduos dentro dessa relação é um elemento intimamente atrelado ao conceito de hierarquia: a AUTORIDADE, elemento caracterizador da posição superior da relação.
Autoridade é um direito adquirido de se fazer comandar, coordenar e controlar os subordinados para que realizem tarefas específicas, dentro de uma determinada área funcional, ou visando determinado objetivo. É um estado que permite o uso de certo poder em busca da disciplina.
Existem dois tipos de autoridade a natural e a contratual.
A autoridade natural vem do status ou condição pessoal do indivíduo que a possui, como o pai em relação ao filho, professor em relação ao aluno, o comandante em relação ao soldado. Já a contratual, aplicável ao BDSM, vem do contrato social, nesse caso a autoridade é outorgada de baixo para cima, é o caso dos políticos que tem autoridade outorgada pelo povo, o chefe que tem a autoridade outorgada pelo contrato de trabalho, o médico que tem a autoridade outorgada pelo paciente etc.
Elementos chave desse conceito são “direito adquirido” e “estado”, pois a autoridade não é absoluta e fundamenta-se na outorga e legitimidade.
Outorga é autorização, concessão, permissão. É uma declaração livre de vontade onde o submetido “aceita” ou “permite” que o dominante exerça sua autoridade. É o reconhecimento dessa autoridade.
Legitimidade é a “validade” da relação. A autoridade só se mantem enquanto legitimada pelos subordinados. A autoridade tem como limites a legitimidade e busca um objetivo e um ponto em comum com o subordinado.
Nas relações D/s não são diferentes. O Dominador não tem autoridade pelo simples fato de se dizer dominador, mas sim pela outorga desse estado pelo submisso que ao aceitar e validar o parceiro outorga à ele, futuro dono, o ESTADO de autoridade (transitória) em busca de um objetivo em comum que pode ser a disciplina, o mero prazer, a superação de limites e por aí vai.
Conjugando tudo isso temos a hierarquia onde emana a autoridade embasada pela outorga e legitimidade resultando em PODER.
Palavrinha favorita dos dominadores, mas poucos realmente entendem o que o poder realmente é.
Principalmente nas relações BDSM o poder é meramente virtual, é apenas um “combinado” (eu ia usar a palavra “contrato” mas acho incabível) entre as partes em que um CEDE ao outro o estado de autoridade enquanto na busca de interesses em comum.
Por fim, é possível que um Top tenha mais de um bottom, pois é natural à hierarquia que haja vários subordinados à uma autoridade (por mais que os subordinados sejam hierarquicamente diferentes). A hierarquia subentende-se que seja agregadora e que se expanda naturalmente e não se esgota em si mesma, ou seja se replica quanto mais influência houver.
Já o contrário não é tão simples assim.
Não é natural à hierarquia que um bottom tenha mais de um Top, pois nesse caso haveria um conflito de autoridades. Ilusão pensar que dois Tops teriam a mesma autoridade sob o mesmo bottom. Sempre alguém terá mais influência, logo mais autoridade, que o outro. Sendo assim, na posição de bottom a servidão ou subserviência se espera que seja segregadora e que se esgote em si mesma, é única em face de cada influencia (autoridade) recebida pois vai depender do grau de outorga e de legitimidade que o bottom conferirá.
Belo texto muito claro!!! Parabéns.
ResponderExcluirBelo texto muito esclarecedor, posso replica-lo em nosso grupo de estudos de bdsm? Desejo saber sua posição no bdsm
ResponderExcluirExcelente texto.
ResponderExcluirGostaria de estar compartilhando na minha página no Instagram.