domingo, 29 de março de 2015

"O que você tem contra BDSM Virtual?"

Texto de Don Marco Alighieri

Pergunta feita a mim por 3 pessoas, e acho importante criar uma postagem sobre.

Amigos. Não tenho absolutamente nada contra o virtual.
- Enquanto não estiverem tentando passar como BDSM Real.

São mundos muito diferentes, onde praticantes fazem coisas diferentes (mesmo ostentando títulos e denominações iguais).
E onde tudo tem conotações distintas.

SESSÃO E RESPONSABILIDADE:

No Real?
Top aplicando suplícios no Bottom. Grande responsabilidade do Top sobre a cena e a saúde do Bottom.

No Virtual?
Bottom se autoflagelando em frente à webcam, sob comando de um Top distante. A responsabilidade maior é do Bottom.

RELAÇAO E INTERAÇÃO:

No Real?
Top convivendo com o Bottom ou morando perto. Compartilhando círculos sociais. Se conhecem de fato muito bem!

No Virtual?
Funciona enquanto estiverem conectados, com algumas ordens se estendendo para fora. Só sabem o que o outro revela.

RISCO PESSOAL

No Real?
O mais grave é você tentar fazer uma sessão com um wannabe(iniciante/novato) desastrado ou um sycko(pessoa mal intencionada) perigoso e terminar no cemitério. Tipicamente é o de ferimentos em vários níveis. Ou ainda de esbarrar em um parceiro abusivo ou violento que se ache BDSMer.

No Virtual?
Tem que ser gênio para o Bottom conseguir se matar tirando fotos de si mesmo com pregadores ou coisa parecida... Só o auto-bondage e a auto-asfixia são realmente perigosos. O maior risco normalmente é de ter suas imagens e filmagens vazadas, ou ainda usadas em chantagem. Ou ser perseguido por um stalker(perseguidor) ou control freak(maníaco por controle) pirado, se tiver dado informações suas demais à eles.

NEGOCIAÇÃO, SESSÕES E ENCOLEIRAMENTO

No Real?
Um processo que demora meses. Praticantes reais são quase sempre extremamente criteriosos. Irão conhecer bem a outa pessoa antes de marcar sessão (dias de conversas e algum convívio - por vezes só propõe sessão a quem conhecem já a um tempo). Conversarão muito antes das sessões. Farão várias sessões antes de pensar em encoleirá-la (meses nisso, até porque encoleiramento é compromisso de alto nível, como um namoro ou casamento baunilha).

No Virtual?
Em questão de dias encoleira-se e faz-se sessões. As vezes entre pessoas que no máximo conhecem o primeiro nome e viram uma foto uma da outra. A negociação é limitada também. O processo como um todo é mais rápido. E bem menos íntimo.

PARALELO COM A RELAÇÃO BAUNILHA

No Real?
Um parceiro BDSMer no mínimo configura uma "amizade colorida". No máximo é um cônjuge. Em todos os casos, temos uma relação com função no mundo real e inserção no convívio social em vários níveis.

No Virtual?
Não chega nisso... Se for 100% virtual, não tem paralelo de relação no baunilha que não seja "namoro virtual"... Se, no lugar disso, forem pessoas que se vêem de tempos em tempos, e ficam no virtual o restante, estamos falando em "namoro à distância". Em qualquer caso, são inegavelmente relações de menor intimidade e interação que as outras. (E daí ficam em menor prioridade.)

HABILIDADES ENVOLVIDAS EM SESSÃO

No Real?
O Top ou Switcher aplicam todas as técnicas. O Bottom ou Switcher as recebem.
- Top e Switcher conseguiriam conduzir uma sessão de BDSM Virtual com relativa facilidade...

No Virtual?
O Top ou Switcher aplica a D/S ou Disciplina. O Bottom ou Switcher recebe, e aplica em si mesmo todo o resto (Bondage e Sadomasoquismo).
- Se fosse para conduzir uma sessão de BDSM Real? Paradoxalmente, Switchers e BOTTOMS Virtuais se sairiam muito melhor que os Tops Virtuais no que tange as habilidade manuais, conhecimento de causa, empatia pelo Bottom, etc...

FUNCIONAMENTO SOCIAL E PROGRESSÃO

No Real?
Uma relação BDSM real bem sucedida pode ser de diversos tipos. Algumas evoluem para estados de maior compromisso. (Os praticantes casam-se no baunilha.) Outras diminuem de compromisso. (Caso em que namorados BDSMers tornam-se parceiros esporádicos.) Em qualquer caso? Há todo o contexto de uma relação real. Troca de afeto. Suporte. Planos para a vida. Prioridades. Eventual convívio com amigos e família de ambas as partes.
Nada fica em branco. A coisa se consolida como parte da vida.

No longo prazo?
O 100% Real é sustentável como relação prioritária..

No Virtual?
Em alguns casos evolui para "BDSM à distância", que é quando os parceiros passam a se encontrar. E daí, eventualmente, para uma relação real, quando se mudam para perto um do outro. Se isso não acontecer, e tivermos pessoas colocando cada ver mais prioridade em uma relação BDSM Virtual?
Temos essencialmente duas pessoas se isolando cada vez mais do mundo ao seu redor. Se afastando e amigos, parentes, pretendentes reais, etc...
Vivendo uma paixão platônica, saciando o desejo com sexo virtual - mas essencialmente carentes de afeto e todo o companheirismo e vivências de uma relação real.

No longo prazo?
O 100% Virtual é insustentável como modelo de relação prioritária. E daí uma vasta gama de outros detalhes, que não tive como incluir...
O maior dos estragos? No final das contas, ocorre quando alguém do Virtual entra no Real e tenta aconselhar ou criticar outra pessoa. "Bottom tem que obedecer TUDO. Se não obedece, tomo a coleira."
- No virtual, isso aqui é fácil... Você deleta perfil, bloqueia, e arranja outro. A coisa de fato é muito mais volúvel e banal.

No real? Isso aqui é chantagem emocional!
Ilude-se um Top do Real que pensa que irá longe fazendo isso.
"Spanking? Needle? Etc...? Só é de verdade se for assim ó..."

- No virtual, quem pratica as coisas é o Bottom. E sim, se você aplica algo do gênero em si mesmo, essa coisa dói menos do que se for feita por outra pessoa.
No real, a resistência do Bottom, na mesma técnica, nunca será tão alta. Sem falar que lidamos com receios deste, naturais, em relação a cena. E N outras variáveis.

"TPE 24x7 plus é o que há. Se você não pratica, é baunilha apimentado."

- No virtual, TPE 24x7 é muito mais diluído... Funciona durante a conexão na internet ou celular. Envolve coisas dentro de um contexto bem menor e mais restrito - até pela distância. E sim, um Bottom pode simplesmente ignorar algo, ou mentir. Desligou a internet ou celular? O parceirou sumiu da sua frente.
É só lá que ele existe de fato. A responsabilidade do Top é relativamente pequena e restrita ao contexto de suas ordens...

Já no real a coisa muda completamente de figura.
Temos uma forte hierarquia presencial interferindo diretamente na vida de outro ser humano. A coisa tem que ser síncrona, e entre praticantes equilibrados - ou tende à sérias desgraças. Os parceiros estão um na frente do outro. Por vezes morando juntos, ou convivendo constantemente. A responsabilidade do top é IMENSA.

Obs.: Em ambos os casos? TPE 24x7 de fato, é incomum. "Luva que cabe em poucas mãos." Muitos vivem o PPE 24x7... Ou ainda o EPE (relação sem D/S).

"Quem é só sadomasoquista ou só bondagista, não é BDSMer."
Para o praticante de virtual, são palavras que saem sem peso.
O Top, no final das contas, pratica puramente a D/S, e no Máximo a Disciplina.
Sem essas coisas, o BDSM virtual dele se resume à nada.

Para o praticante real? São outros 500. Boa parte tem convívio com outros praticantes reais. Conheceu gente que agia e pensava diferente. Percebeu que cada um tem seu jeito de agir. Falar uma besteira dessas no meio resulta em broncas altamente educativas dos demais. - E daí essas palavras não saem de graça.

"Submisso e Escravo de verdade não tem limites. E fazem tudo só para agradar o Top."
Outra grande besteira, que sai sem peso para o pessoal do BDSM Virtual.
É, afinal, uma prática baseada nisso. Aonde quem entra quer se exibir um para o outro, e agradar com imagens, fotos, vídeos, etc...
- E, detalhe mais importante, é o próprio Bottom que aplica as coisas em si mesmo. Logicamente dentro de seus limites.
Bottom não gostou do que o Top pediu?
Top não gostou da performance do Bottom?
Nenhum deles quer conversar sobre isso?
Desliga o chat, bloqueia, deleta perfil, some, etc.
A coisa é impune nesse sentido. Banal. Deu errado, apaga-se tudo.

No Real? É diferente...
As pessoas tem sim limites diversos. E isso TEM QUE ser respeitado por ambos.
Passar por cima de um limite e torcer o braço do outro é dor de cabeça na certa.
É Bottom indo parar em hospital, delegacia ou até necrotério dependendo do grau da besteira que for feita.
A responsabilidade por uma falha acidental, ou por uma atitude criminosa ou irresponsável não desaparece da sua frente como mágica!


Será que alguém aí ainda pensa que são a mesma coisa?

8 comentários:

  1. Que bom que li isso. Estou começando no universo BDSM como submissa tenho muito a aprender e conheci um Dom que o único jeito é a distância por morar em outro país... Mas depois de ler isso estou receosa em continuar... há vínculos etc que a distância não tem como suprir .. e eu estarei aprendendo errado? Agora estou confusa.

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    1. Luisa, relacionamentos somente virtuais tendem a ser muito superficiais, e a meu ver, assim como do autor do texto, não pode ser considerado BDSM real. Acontece uma idealização de um relacionamento que não existe na realidade. Só dura enquanto houver conexão de internet ou telefone. Procure praticantes reais em sua cidade. Converse com pessoas reais. Use o mundo virtual para buscar conhecimento, estudar.

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  2. Nao axei nenhum dom. Proximo a mim... acabei indo para um mundo virtual e virei bottom...
    Mas isso nao me satisfaz somente.. eu sou uma escrava de alma... procurei com calme e encontrei meu senhor.. meu dono... mas ele mora longe e eh tudo por telefone e watts... ainda assim vivemos TPE 24/7... eu JAMAIS ousaria mentir para meu dono... ele tem minha mente e meu corpo...
    Ele esta planejando vir me ver em breve..
    Axo q vai mto da vontade das partes de manter o relacionamento...
    Mas NAO 100% virtual a longo prazo nao funciona... sinto falta de beijar os pes do meu senhor...
    Hj em dia eh dificil axar quem queira um BDSM 24/7 hj em dia os Tops e Bottoms soh querem sessoes avulsas... eu e meu senhor nos axamos..
    Ele me fala em casamento... em uma vida... eu faria (e faco) qlq coisa pelo meu senhor...

    Sei lah... uma relacao virtual pode se quente e 80% completa... eh soh querer e confiar...

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    1. Juliana, qualquer coisa feita de forma "virtual" é apenas uma simulação, algo que não é real. Nada substitui a presença, e não se conhece alguém a ponto de confiar em meios não reais, onde não há olho no olho. Relacionamentos como o que você vive não podem ser nem de longe TPE 24/7 pelo simples fato de que ainda não há posse, vocês não se conhecem, não se toma posse de algo que você nunca viu ou nem sequer tocou. Seu comentário demonstra que você e seu pretenso dono ainda são iniciantes e que ainda não entendem direito como o BDSM funciona. Estudem. Esse é o melhor conselho que posso te dar.

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  3. Optei pelo BDSM virtual pois sou casada e meu marido é contra essa prática. Descobri há pouco tempo minha tendência e gosto por ser submissa, qual é a melhor atitude que posso tomar? Estou em periodo de avaliação com um Dom virtual.

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    1. Espero que a leitura do texto tenha te dado luz de que não existe BDSM de forma virtual. Não se avalia alguém que não se conhece. Se seu marido é contra, e você já conversou com ele, não vai ser fazendo algo escondido dele que resolve seu problema. Tome as rédeas da situação e se permita viver ou viva de forma honesta com seu marido. Dessa forma você o engana e se engana.

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  5. Olá, boa tarde!!
    Tenho tantas dúvidas.
    Tem um rapaz que conheço e ele quer ser meu submisso. Já comecei, do meu jeito, mas preciso saber o que falar, o que fazer.
    Nosso tratamento por enquanto é virtual. As vezes quero mandar algo, mas nunca sei o que. Poderia me ajudar?

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