sexta-feira, 8 de maio de 2015

Controlar amizades do bottom submisso. Insegurança ou proteção?

Artigo de Don Marco Alighieri
Postado originalmente em uma discussão no grupo BDSM Brasil



Independente da temática e de acordos de BDSM, a mesma situação cabe em N possibilidades.

Vamos ver elas uma-a-uma:

1 - Na mais virtuosa das possibilidades? Temos um Top que age como líder, tem muito bom senso, confiabilidade e/ou sólida base de conhecimento sobre o meio e daí o Bottom o tem como referência.
E nisso o Bottom vai querer sua opinião sobre quem deve ou não adicionar, simplesmente porque seu Top é o melhor conselheiro que poderia ter nisso.
E isso aqui é cabível não só em uma relação entre parceiros de práticas BDSM (entre "pessoas que fazem sessão entre si", seja de que tipo for), mas também em uma relação BDSM de proteção ou mentoria - aonde o objetivo é auxiliar o progresso do outro praticante. Em qualquer um dos casos, trata-se de uma situação bastante profunda e de uma legítima simbiose. Ultrapassando inclusive a questão de ser um fetiche, e passando ser algo de fato construtivo e proveitoso - recheado de fundamentos sólidos. 
(Infelizmente uma coisa RARA de se ver. Mas definitivamente bela.)

2 - Temos também outra possibilidade virtuosa, que é quando há um forte fetiche (KINK) entre os envolvidos em sentirem-se atrelados um ao outro como "quem manda e quem obedece" E em demonstrarem isso ao coletivo. Daí o que existe é um procedimento padrão, que não deixa de ser também uma forma de demarcar território, além de ser oportunidade para exibirem suas características em público. É parte opcional da prática do BDSM haver uma hierarquia.
Estas duas pessoas apreciam isto e optam pela expansão desta para uma área aonde sentem prazer também em seu exibicionismo.

Geralmente? 
Este tipo de praticante demonstraria isso orgulhosamente e acintosamente em playparties. Mas no caso usam a internet como se fosse um "meio BDSM". São "duas pessoas se divertindo do jeito delas" no final das contas. 
Por vezes, a coisa é superficial. Mas visivelmente é apreciada por ambos. - E daí nada há de errado nisso. 

3 - Temos também Bottoms que usam isso como uma inteligível desculpa para se livrarem de chatos. Nesse caso aqui é um recurso válido também. "Tenho que falar com meu dono." -> E a pessoa nunca mais te responde, deste modo tendo se livrado de ti.
Por vezes nem falam com o Dono. Ou ainda nem tem dono. Mas neste momento estão pesquisando sobre quem os tentou adicionar, ou ainda os ignorando completamente.

(E sim, tem também a "versão cafajeste" da coisa, que é quando um bottom solteiro faz isso para "engavetar" tops que não o interessaram de primeira, e só volta a ter contato quando cansa-se de um alvo mais prioritário.)
Em qualquer caso? Falamos aqui de uma gambiarra...

4 - E temos sim, claro, também Tops inseguros, possessivos e/ou ciumentos que simplesmente tem receio de perderem seus bottoms para outras pessoas. Nestes casos, é flagrante a forma "seletiva" como agem, pela qual removem qualquer um que possa ser um candidato melhor que eles ou ainda alguém que os ponha em condição de inferioridade se comparados com eles. Geralmente se olhado mais de perto percebe-se que este "relacionamento D/S" é totalmente baseado em sentimentos baunilha na prática... 
O grande pilar que sustenta a coisa é a paixão, Top e Bottom são totalmente dirigidos por seus sentimentos, etc...
A coisa aqui é muito longe do ideal, eu diria, pois apenas usa-se o BDSM como pretexto para se dar asas à ao que de fato é uma fraqueza de personalidade. 
Essencialmente falta de autoconhecimento e autocontrole lado a lado com a carência do entendimento de que uma relação D/S precisa ou de uma base sólida e construtiva, ou de um gostoso kink para funcionar direito no longo prazo.
- E estariam melhor buscando melhorar isso no lugar de piorar...

Grande fato sobre a paixão? 
Além de turvar a mente se for maximizada, fenece com o tempo...
Engrandece ciúmes, e por vezes nos faz aceitar coisas contra nossa real vontade só para agradar a outrem.
"Péssimo pilar para uma prática que requer absoluta sobriedade", como diria meu mentor nas palavras dele...

5 - Outro caso bem mais complicado, é quando temos um Top "maníaco-controlador-paranóico" e que tem uma forma de agir autoritária, coercitiva e/ou manipulativa. Aqui o que existe é uma mania, não um KINK ou qualquer coisa que tenha alguma virtude (e nem mesmo sentimentos baunilha), aonde o Top simplesmente apresenta um comportamento paranóico e utiliza o BDSM como estratégia e para submeter o Bottom a que é na realidade um desequilíbrio psíquico seu. Trata-se de uma pessoa com ciúmes e possessividade doentia.
E estes tendem a isolar muito ou ainda completamente seus Bottoms... Quase sempre tomam-lhes suas senhas e negam boa parte dos contatos. Interceptam comunicações. Etc. Usam toda sorte de táticas sujas para conseguirem este nível de controle, geralmente chantagem emocional (o clássico "se não fizer o que mando eu te largo", sem qualquer respeito por limites do Bottom), ameaça de represálias e punições (com a desculpa de serem "prática BDSM", novamente sem respeitarem o direito à limites e a necessidade de TUDO ser livremente consentido), etc.

Em resumo?
Estes "Tops" na verdade são pessoas que deveriam estar bem longe daqui, e sendo tratados em uma terapia...
Bottoms nunca passam por eles sem quebrarem em algum momento e quase sempre saem traumatizados da situação.

6 - E aqui temos a variante maliciosa...
Temos um Top que é:
> Charlatão se passando por "praticante experiente" e tentando esconder que não entende patavinas de BDSM.
> Cafajeste buscando amante cativo para sexo fácil ou alguma coisa parecida, e usando o BDSM como desculpa.
> Mal caráter querendo explorar ou aplicar golpes financeiros no Bottom e tentando evitar que este o perceba como tal.
...E daí tal Top faz o possível para isolar o Bottom de todo o resto da comunidade de BDSMers. Não por ciúmes descontrolados, nem por uma paranóia doentia, mas sim porque ele sabe muito bem que se tal Bottom adquirir conhecimentos profundos sobre a prática, ou ainda buscar a opinião de pessoas mais experientes, este o irá desmascarar. E daí também fazem uso de táticas sujas como chantagem emocional, ameaças de represálias e punições, etc... sem qualquer apreço pelas boas práticas do BDSM.
São pessoas que também não deveriam estar na comunidade de BDSM... 
Sujam nosso meio com os estragos que causam em seus Bottoms, e os traumatizam de diversas formas.

7 - N.D.A. ...
Aquelas situações que não caem em nada do que descrevi, mas que geralmente passam longe de serem virtuosas.
Temos gente que lê besteiras na internet e/ou livros de ficção e tenta fazer igual sem ter uma boa noção das coisas.
Temos gente que se afunda em "BDSM Virtual", anseia por interação que jamais teriam na vida real e daí força a barra em práticas controladoras na internet para compensar.
Temos trolls que se passam por praticantes, ficam pendurados na internet obrigando-os à se comportarem de forma ridícula e acham graça nos estragos que causam no meio.
Etc... Etc... Etc... 
(Ponha aí uns 1000 Etcéteras, dada a imensa criatividade do ser humano em fazer besteira.)

Bom, creio que escrevi um mini-artigo por aqui...
Mas, é isso o que vejo.
Se escrevesse menos, seria incompleto.


2 comentários:

  1. E quanto o Bottom quer isso da relação D/s 24/7? Um escravo que exige total controle de sua vida, incluindo castidade? Sendo eu de perfil possessivo, até achei complementar. Daí fica a reflexão: só jogar ou deixar o sentimento levar?

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    1. Vejo essa relação como um jogo para dois. Se o bottom deseja esse tipo de controle e o permite consensualmente, não há problema, mas ainda assim o bom senso dos parceiros em não isolar de amigos e familiares é importante. Mesmo em uma D/s 24/7 TPE, deve haver espaço para convívio social(não confundindo com liberdade, já que consensualmente a pessoa concedeu o controle sobre isso), pois o isolamento social vai deteriorar a relação muito rapidamente, e emocionalmente o Top ficará esgotado. Entendo que relações assim, D/s 24/7 TPE são construídas com o tempo e confiança, onde o Top vai conduzindo a situação para um controle maior, sem desgaste excessivo ou queima de etapas.

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