sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O escravo e o "esparro"


Texto de Mestre Monteiro ACM Antonio
Postado originalmente em seu perfil no facebook



Faz tempo que navego pelo BDSM, e faz tempo que algumas coisas não me agradam.

E como não estou imune a passar em branco frente aos recém chegados, aqui vai uma pequena contribuição de um assunto em voga.



Atualmente, a internet exibe três tipos de mulheres com acento dominante em seus perfis. As verdadeiras Dommes, as Pro-dommes e as Rainhas.
Não fui eu quem criou essa nomenclatura, isso está nos perfis pra quem quiser ver.

E não raramente deparo com postagens em redes sociais em que algumas moças escrevem coisas do tipo: “necessito de um escravo motorista”. Apenas pra citar um exemplo.

Ora, nos comentários sempre aos borbotões, dezenas de pseudos escravos se habilitam a tal tarefa. Uns lamentam por morarem distante, outros alegam compromissos e outros pedem para marcar a hora.

Claro que ninguém vai aparecer pra isso. Porque essa moça não quer um Escravo, ela quer um Esparro. E aqui residem as diferenças básicas, gritantes e fundamentais.

Porque esta moça, que pode alegar ser uma pro-domme ou apenas uma dessas Rainhas de Podos que está em voga nos diversos grupos espalhados na rede, não tem a menor idéia do que significa ter um escravo. E se vale uma leitura atenta pode ser que essas palavras façam sentido, ou podem me chamar de idiota mesmo, porque eu não ligo. Ando evacuando um quilo exato pra esse tipo de mi-mi-mi.

Um sujeito que se presta a ir fazer um favor a alguém que escreve uma postagem desse tom na certa estará imaginando ter algo em troca pelo ato. E se tal fato realmente se confirmar será uma relação pro-domme de momento, com um valor estabelecido, ainda que não seja dinheiro, grana, cacau, mas uma pisada, um beijo no pé etc. Mas se nada rolar ele será um “esparro” por um dia.
Digo isso amparado em experiências de vida. Não tem nenhuma teoria de “chutágoras” aqui.

Uma relação “Master/Slave” denota muito mais que uma tarefa de levar uma moça a um shopping, ou a compra de um par de sapatos enviado pelos correios. Se fosse assim, estaríamos diante de um reducionismo absoluto do se resolveu chamar de BDSM.

Toda a responsabilidade que compreende a lisura do relacionamento de uma domme e seu escravo está muito além de uma dessas muitas conversas tolas que assisto todos os dias passando por minha timeline.

Uma verdadeira domme pode ter cinco escravos pendurados em sua corrente, desde que saiba ter atitude e conhecimento de causa para atender as responsabilidades que isto exige.

Então, se a onda é descolar um par de sapatos, uma lingerie, uma “carona” até o shopping mais próximo, ou distante, não use palavras das quais não tem o menor embasamento para proferir.

Fetichismo é muito bem vindo. Muita gente gosta de pés, pescoço, xereca fedida, o que for. Mas fetichismo não tem nada a ver com BDSM, com relação D/S. Fetichismo é fetichismo e pronto moças.

Seus pés podem ser lindos, seu sucesso incontestável. Eu mesmo curto muitas.
As fotos dos seus cabelos são magníficas, a bunda de parar uma partida de futebol. Você pode ser a gostosa da hora, a musa que deu certo. Pode ter um séquito de podólatras escrevendo palavras que te massageiem o ego, mas ser uma domme, uma rainha, ou até uma pro-domme exige muito mais que todos esses predicados relacionados aqui.

Ainda que o cidadão imbuído de sua autodeterminação alegue que ser um “esparro” é uma tarefa de humilhação condizente com os desejos de um escravo eu rebato, veementemente.

Porque para se humilhar diante de uma Senhora o cavalheiro disposto a tanto tem que pertencer a esta Mulher, de corpo e alma, não através de um avatar com foto falsa de uma rede social pautada pelo anonimato.

Fica a dica!

Um comentário:

  1. Achei o texto ótimo , e muito realista ! Uma pena que muitas não sabem diferenciar ..

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