terça-feira, 16 de setembro de 2014

"NA BERLINDA BDSM" - DANIEL PAULINO

O entrevistado do dia 28/08/2014 foi o Dominador Daniel Paulino, em nosso grupo do Facebook.

Abaixo a entrevista na íntegra.

Bia Baccellet: Iniciamos agora a entrevista com o Dominador Daniel Paulino. Perguntas liberadas após a presentação. Boa noite e por favor apresente-se!!!!

Daniel Paulino: Boa noite a todos. Meu nome é Daniel Paulino, também conhecido como Sr_Beren. São Paulo capital, 25 anos, quase dois anos como Dominador. Um prazer participar da entrevista.

Bia Baccellet: Como conheceu o BDSM Sr_Beren? Fale um pouco de sua trajetória de descoberta.

Daniel Paulino: Então Bia, meu primeiro contato com o BDSM foi enquanto eu morava na Alemanha. Eu tive um relacionamento um pouco complicado com uma brat, que hoje apesar de não ser mais minha, ainda é minha melhor amiga.
A gente teve uma primeira sessão um tanto quanto "acidental" e depois disso eu me descobri no papel de Dominador.

Helena Pimenta: Boa noite, Bia Baccellet e Senhor Daniel Paulino. Senhor, na chamada foi citado que vivenciou o BDSM na Alemanha, o que poderia nos falar sobre... e quais são as diferenças mais marcantes que notou até aqui?

Daniel Paulino: Helena: então, a diferença é bem grande. Acho que tem duas coisas que são as mais gritantes:
1o. os dungeons. Na Europa os dungeons são muito, muito maiores do que aqui no Brasil, lá existem poucas festas onde você não tem mais de 300 pessoas reunidas. A diversidade de cenas publicas é muito maior, e o mais importante, lá não existe esse "preconceito" contra sexo, é a coisa mais comum uma sessão terminar, ou envolver sexo dentro de um dungeon.
2o. as regras. Na Europa as pessoas tem uma visão muito diferente das regras dentro do BDSM. Existe muito menos discussão a respeito de esteriótipos, por exemplo, eu tive algumas amigas Dommes e masocas, que treinavam os escravos pra usar floggers ou bullwhips. Ao mesmo tempo você tem as regras pragmáticas muito mais estritas, as festas costumam todas ter um dresscode absolutamente mandatório, e coisas como submissas acompanhadas sem coleira em uma festa seriam um "pecado mortal".

Cammy Veras: Boa Noite Senhor, o que uma sub deve atender para ser uma boa sub para o senhor?

Daniel Paulino: Boa noite Cammy, bem, acho que o mais importante em uma sub é estar disponível pra se entregar. Uma coisa que eu sempre digo é que submissão não é algo que se "tira" de ninguém. Do mesmo jeito que o Dominante precisa ser uma pessoal 100% confiável e responsável, para merecer essa entrega, se a submissa não estiver disposta a ceder, não pode existir uma relação D/s.

Helena Pimenta: O que quer dizer com: " submissas acompanhadas sem coleira em uma festa seriam um "pecado mortal", poderia falar mais a respeito?

Daniel Paulino: Helena, existem algumas regras de etiqueta que são importantes pra uma festa, especialmente uma onde se espera cenas públicas, funcione direito. Uma delas é que submissas acompanhadas devem sempre usar uma coleira, pra evitar aquela situação chata de "ah, desculpa, eu não posso brincar, meu dono não deixa"

Bia Baccellet: Então prefere um BDSM mais litúrgico, com mais regras?

Daniel Paulino: Bia, eu não diria litúrgico. Eu não espero que ninguém, que não minhas submissas, me chame de Senhor ou qualquer coisa do tipo, mas, existem algumas regras que existem pra facilitar o convívio, especialmente em lugares onde acontecem cenas. Agora quanto às minhas próprias submissas, eu gosto de criar a nossa própria "liturgia", acho que as regras acentuam a laço numa relação D/s.

Simone Ana: Boa noite Daniel Paulino, no seu ver então o que o BDSM já "regionalizado" (duro será tentar entender a colocação rs) tende a perder em referencia ao que se vivencia la fora?

Daniel Paulino: Simone, bem a diferença é bem grande entre o BDSM aqui e lá. Acho que a cena aqui no Brasil ainda tem muito o que crescer, muito o que aprender. Mas não me sinto confortavel em dizer pior ou melhor.

Cammy Veras: Quais as práticas que lhe dão prazer? Quais ainda não praticou mas pretende desenvolver e quais não se interessa?

Daniel Paulino: Cammy, das praticas eu sou um apaixonado por flogging. O som, a sensação, as marcas, eu simplesmente adoro. Outra coisa que me dá muito prazer é orgasm training/control/denial, eu costumo dizer que não existem palavras mais doces do que "May I please come, Sr?" Que eu ainda não fiz acho que sobrou só a suspensão, Shibari/Kinbaku são paixões recentes. Que eu não tenho interesse eu diria blood/needle play, e que não faria de forma alguma, scat.

Edu Castellini Dourado: Bom boa noite amigo Daniel Paulino minha primeira pergunta...!!!! Como eram as regras do Dungeon Publico no clube da Alemanha onde praticava....?

Daniel Paulino: Edu, regras oficiais só existiam 3: RED é a safeword universal, Sexo só com camisinha, e sem fotos, em hipótese alguma. Agora, você tem toda a etiqueta, como subs acompanhadas devem usar coleira, sub não devem sentar em lugares mais altos do que os dominantes, etc...

Karla Romero Castellini Dourado: Daniel... é muito comum ouvir uma sub ser indagada sobre o que é pra ela a submissão... o que ela entende por servir... Gostaria de saber sua opinião sobre o oposto.... O que é Dominar para você? O que você entende como conduzir outra pessoa? (em questão de deveres/direitos, etc)

Daniel Paulino: Karla, eu acho que Dominação é acima do que qualquer coisa sobre assumir a responsabilidade. Quando uma submissa se entrega pra você, ela está colocando muita coisa nas suas mãos, e isso faz com que você seja responsável pelo bem estar dela, pela segurança dela, até mesmo o prazer dela passa a ser sua responsabilidade. Ser um bom dominante significa tomar essa responsabilidade pra você, e garantir que durante toda a relação, você esteja usando o poder que aquela pessoa colocou nas suas mão para melhorar a vida dela. O meu prazer como Dom está exatamente nessa transferência de poder, tanto no "controle", em si, que eu exerço na submissa, como nesse cuidado, que é minha obrigação por assumir o controle.

Helena Pimenta: Li em algum lugar que o termo "dominação psicológica" só é visto e usado no Brasil. Quais são as suas impressões a respeito de tal prática?

Daniel Paulino: Não sei onde você viu isso Helena, mas posso te garantir que está errado. No meu circulo nós sempre falávamos sobre dominação psicológica. Pra mim, ela é uma parte fundamental em qualquer relação D/s, e honestamente é minha parte favorita. Poucas coisas me dão mais prazer do que sentir que a minha submissa sente "necessidade" da minha autoridade, da minha autorização.

Simone Ana: Sessões avulsas. Tem alguma posição a respeito?

Daniel Paulino: Simone, não vejo o menor problema com sessões avulsas. Pra mim não é o mesmo prazer de uma relação D/s completa, mas cenas em geral são bem divertidas também.

Marco Bauhaus Mishima: Daniel, boa noite. Muito bacana você também ter uma experiência lá de fora. - É mesmo outro universo. Vamos as minhas perguntas... O que pensa a respeito do que chamam de BDSM Virtual? Da predominância de praticantes deste nos grupos de BDSM na internet Brasileira? E dos conceitos as vezes um tanto quanto idealizados ou exagerados que eles apregoam nos grupos?

Daniel Paulino: Olha Marco, eu sinceramente não tenho o menor interesse por BDSM virtual. Não sei sobre as pessoas que praticam, mas eu não sinto, nem sequer vontade de "dominar" alguém de quem eu nunca senti a "pele". Não acho que pode haver o nível de entrega que uma relação D/s requer em uma relação puramente virtual.

Marcia Leite: Boa noite Daniel Paulino....gostaria de saber sua opinião sobre sessões virtuais? Só virtual, funciona?

(Essa pergunta foi respondida dentro da resposta dada acima a Marco Bauhaus Mishima)

Helena Pimenta: Já que disse ser uma das suas práticas preferidas, poderia, por favor, nos falar a respeito dos cuidados que tal prática (Dominação Psicológica) necessita? Em um possível rompimento da relação, como lida para "devolver" os poderes à sua peça? Faz acompanhamento posterior ao fim da relação?

Daniel Paulino: Olha Helena, D/s é sempre complicado, a troca de poder cria um tipo de relação de dependência que é um pouco imprevisível. Infelizmente todas as minhas relações passadas acabaram de maneiras que impossibilitaram esse "after care", o exemplo mais notável sendo minha última submissa na Alemanha, que não conseguiu lidar com o fato de que nós descobrimos que eu iria mesmo ter que voltar ao Brasil.

Marcia Leite: Qual sua opinião sobre SW?

Daniel Paulino: Marcia, esse é um assunto sobre o qual eu compartilho a opinião do grande amigo Edu. Dominação e submissão não é preto e branco, existe um espectro continuo, e diferentes pessoas se encaixam em diferentes pontos desse espectro. Eu me vejo em um dos extremos desse espectro, na verdade, tenho problemas com autoridade em muitos aspectos da minha vida por isso, mas pra alguém que está mais no centro, nada mais natural do que se submeter a pessoas mais Dominantes e Dominar pessoas mais submissas.

Bia Baccellet: Dominaria um sub homem ou somente domina mulheres?

Daniel Paulino: Bia, olha faria sim alguma coisa tipo uma cena de spanking ou algo assim com um sub homem, porque o sadismo é um prazer em si só. Agora, não vejo como separar o D/s do aspecto sexual, e portanto, não, eu não dominaria outro homem.

Marcia Leite: Qual sua opiniao sobre cinquenta tons de cinza? Ajudou ou so atrapalhou?

Daniel Paulino: Marcia, olha, eu tenho "mixed feeling" a respeito disso. Por um lado, ajudou a divulgar a cena, o que é bom, atrai gente interessada e diminue o preconceito. Por outro lado, o livro tem uma visão terrivelmente distorcida do que é BDSM, e você precisa sempre corrigir essa visão que as pessoas aprendem por lá.

Bia Baccellet: Hoje conseguiria se desligar completamente do BDSM e levar uma relação completamente baunilha? O quanto esse estilo de vida está impregnado dentro de sua vida cotidiana?

Daniel Paulino: Bia. Eu não acredito nisso. Hoje ser Dom é parte de quem eu sou, e isso vai se manifestar, de um jeito ou de outro, em qualquer relação. Mesmo em relações não romanticas, como eu e meu orientador de doutorado, é possível notar a diferença que o fato de eu assumir a minha tendencia a dominar tem.

Marco Bauhaus Mishima: Eu sabia que responderia isso, Daniel. Penso exatamente o mesmo. E coleira sempre foi tida como um compromisso de altíssima seriedade. Entre pessoas que se conhecem muito bem, e praticam a um tempo. O que acha dos encoleiramentos relâmpago? Pessoas exigindo compromisso de quem mal conhecem e as vezes nem pisou em uma cena com elas?

Daniel Paulino: Marco, minha opinião é a mesma que sobre "casamento relâmpago". É uma aposta de altíssimo risco, pode dar muito certo ou muito errado.

Lino Naderer: por qualquer motivo que seja algo que já foi negociado antes da sessão ou antes do relacionamento teve que ser deixado de lado ou modificado?

Daniel Paulino: Lino, já me aconteceu de limites que a sub achava ser capas de ultrapassar acabarem sendo "hard limits". Mas é uma questão de enxergar isso e respeitar.

Angela De Ícaro: Qual sua opinião sobre as redes sociais.? Mais ajudam, ou mais atrapalham o meio?

Daniel Paulino: Angela, acho que as redes sociais tem um efeito positivo sim. Fica muito mais facil divulgar/organizar as coisas por aqui, e na minha opinião isso compensa de longe os efeitos negativos.

Bia Baccellet: Hoje há uma tendência forte de pessoas que se aproximam do BDSM pelo motivo errado, dizerem que é uma coisa ruim, por conta de experiências negativas. Eu costumo dizer que BDSM não é lugar para gente mal resolvida e que não é consultório psicológico. Por qual motivo acredita que as pessoas vem até o BDSM para curar seus medos e neuras psicológicas?

Daniel Paulino: Olha Bia, quando você está lidando com uma pessoa "centrada", o D/s pode ser uma ferramenta terapêutica fantástica, e isso atrai muita gente. Por exemplo, a maioria das pessoas que se cortavam e pararam com isso, que eu já conheci, tiveram ajuda de um bom Dom(me).
Agora, infelizmente, não dá pra tratar tudo usando D/s, se o que falta na pessoa é o básico de estrutura, ela precisa da ajuda de um profissional que saiba lidar com todos os aspectos do problema dela, e não de um Dominante que, a curto prazo, só pode mexer com comportamento.

Bia Baccellet: Pra você inteligência é fator mandatório para a escolha de uma parceira? Se considera sapiossexual?

Daniel Paulino: Com certeza Bia, uma amiga minha sempre me disse que eu sou um dos poucos filósofos, no sentido original, de uma pessoa apaixonada por entender, e portanto, pra me satisfazer por completo, uma parceira precisa ser capaz de manter um nível de discussão intelectual, por mais arrogante que isso pareça.

Bia Baccellet: Você considera que formar um grupo de amigos, ou um clã, ou uma casa, é fundamental para o crescimento dentro do BDSM? Dividir experiências e conhecimentos e ter amigos praticantes fortalece as relações BDSM?

Daniel Paulino: Bia, eu sou mesmo a favor das tais casas, acho que é sempre útil e agradável estar cercado de pessoas que você confia e admira pra dividir as experiências/construir mais conhecimento. Isso não significa que que viva fechado dentro de uma "panela" e não interaja com as outras pessoas do meio.

Bia Baccellet: Sendo sapiossexual assumido, encontra hoje, dificuldade em encontrar uma parceira? Sei que já possui uma menina, tem intenção em aumentar sua casa?

Daniel Paulino: Hahahaha, Bia, olha essa primeira pergunta é bem salgada viu. Mas, mesmo soando arrogante, eu tenho que admitir o quão feliz eu sou por ter encontrado na minha primeira submissa um par perfeito nesse quesito. Quanto a questão de aumentar a casa, essa eu deixo pro futuro, minha primeira submissa é nova no meio e eu quero que essa relação esteja 100% estruturada antes de pensar em trazer mais alguém pra junto de nós. Agora, sendo um apaixonado pelo "play", playpartners são bem vindas, desde que elas entendam direito qual a minha relação com a minha primeira submissa.

Bia Baccellet: Já aconteceu algum acidente em sessão, ou algo inusitado, talvez engraçado? Pode nos contar?

Daniel Paulino: Hahaha, Bia, minha primeira sessão foi um acidente em um certo sentido. Antes dela eu mal sabia o que era BDSM, só sabia que ela "gostava de apanhar". Essa brat forçou a minha mão até que a sessão "aconteceu". Felizmente nós eramos muito amigos e tudo ficou bem, ela acabou sendo a primeira pessoa pra quem eu dei uma coleira, e até hoje é minha melhor amiga. De engraçado, acho que o melhor foi uma sessão, com essa mesma menina, em que ela veio pra me beijar depois do spanking e eu, gripado, acabei espirando nela. Eu fiquei sem saber o que fazer, mas ela, com toda a elegância deste mundo, abaixou a cabeça e disse "Thank you, Sr".

Bia Baccellet: Entrevista encerrada. Muito obrigada pela ótima entrevista Sr_Beren. Foi realmente incrível ter partilhado sua experiência e vida conosco. Aos demais boa noite e até a próxima!!!!!!

Daniel Paulino: Meu muito obrigado a todos, em especial a Bia pelo convite, foi um grande prazer! Se alguém tiver alguma duvida ou comentário, sinta-se a vontade para entrar em contato.

As entrevistas acontecem semanalmente no grupo do facebook Iniciação ao BDSM.

https://www.facebook.com/groups/233584086812714/permalink/315667435271045/

É necessário ser membro do grupo para visualizar a entrevista.

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