A nossa nova entrevista é com o Dominador iniciante Senhor Rasputin, na época conhecido como Dom Gabriel.
A entrevista aconteceu no dia 07/05/2014 e foi extraída do blog do próprio Senhor Rasputin, uma vez que a entrevista original não pode mais ser visualizada completamente.
Lembrando que o blog não é responsável por eventuais erros gramaticais, isto é apenas uma transcrição.
Bia Baccellet: Iniciando mais
uma entrevista "Na Berlinda BDSM", por favor apresente-se Senhor Dom
Gabriel. Seja bem vindo!!!
Dom Gabriel: Gabriel, 26
anos, moro em Niterói, RJ. Biólogo, baixista, ateu, nerd e Dominador iniciante.
Boa noite.
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Helena Pimenta: Bem, vou
começar pelo início...rs... então, Dom Gabriel, o que foi que o chamou para o
BDSM, como foi o seu início, e quais as suas práticas preferidas até o momento?
Dom Gabriel: Acho que já
nasci sendo um dominador, Helena. Sempre gostei de ter as namoradas "na
rédea" e do sexo mais "sujo". Algumas experiencias específicas
foram dando estalos como uma que gostava bastante de apanhar, outra que gostava
de asfixia, amarrar partes do corpo sempre foram divertidas demais pra mim. Até
que, um belo dia, a ficha caiu e foi meio como acordar. Vc não percebe como
aconteceu, mas quando vê, já foi. rsrs
Dentre as práticas, o spanking -principalmente com a mão - e a asfixia
são campeões. rsrs
Meu shibari precisa de treino, mas tá no topo da lista também.
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Helena Pimenta: O que chama de
"sexo mais "sujo", poderia falar mais a respeito?
Dom Gabriel Sexo menos
convencional, Helena. Por exemplo, sexo sem tapas não tem graça, puxão de
cabelo, mordidas, "rough-sex", entende? O tipo de coisas que, prum
baunilha, são inaceitáveis.
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Marco Bauhaus
Mishima: Quais coisas, das que conhece, tem muita vontade de aprender e
começar a praticar? E quais seriam um limite seu?
Dom Gabriel: Tenho
curiosidade com Needleplay (pelo sadismo) e fireplay (pela beleza da cena).
Definitivamente as chuvas marrom e dourada estão off-limits. Sangue também não
é algo que me deixe confortável, então knifeplay, vampirismo e práticas
relacionadas à verter sangue estão off-limits também. Fora isso, tudo é
negociável, creio.
Tb tenho bastante vontade brincar com velas...
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Helena Pimenta: O Senhor se
definiu logo acima como um "Dom iniciante", e pelas descrições está
descobrindo seus prazeres, levando isso em conta, poderia, por favor, nos dizer
quais as expectativas que tem nessa jornada no BDSM? Como se vê em, digamos, 10
anos? (bem pergunta de RH....rsrsrsrsrsrs).
Dom Gabriel: Acho que as
expectativas são basicamente as mesmas de qualquer pessoa que leve a vida a
sério. Aumentar o conhecimento e a prática, cometer cada vez menos erros, ser
um bom exemplo pra quem começar depois de mim. Não sei exatamente onde nem o
que estarei fazendo daqui a 10 anos, mas espero que seja pelo menos 10 vezes
melhor do que sou hoje. Mas segundo meus amigos, daqui a 10 anos estarei num
caixão...
HAHAHAHAHAHAHA
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Lucy De Dom Daniel: Dom Gabri, boa
noite. você saberia descrever o que sente batendo em alguém? de onde vem o
prazer? é relevante se a praticante é masoquista ou apenas submissa? seu prazer
vem do ato de bater ou da compreensão de prazer do outro?
Dom Gabriel: Alívio e
liberdade, Lucy. A sensação de, finalmente, estar pondo meu verdadeiro eu pra
fora. Não sei precisar essa relevancia ainda, mas sempre tive a tendencia a
"dobrar" a pessoa ao meu gosto. Submeter uma masoquista talvez seja,
de certa forma, mais fácil que efetivamente submeter uma submissa pela
praticidade do físico dobrar o psicológico (pelo menos em questãoes sexuais).
Quanto ao prazer, acho que vem de um turbilhão de sensações e emoções
que emergem ao mesmo tempo. Gerar prazer em uma pessoa é excitante, saber que
ela gosta de cada coisa que vc está fazendo é excitante. E, bom... sou um tanto
quanto sádico e sempre fui apaixonado por provocar marcas e hematomas. Então,
acho que o prazer vem por todos os pontos de vista.
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Helena Pimenta: Senhor, quais
são as suas impressões, estudos, compreensão, a respeito da Dominação
Psicológica? O Senhor a pratica? Quais os cuidados que deve ter nessa prática,
em sua visão, e principalmente num suposto rompimento, como deveria se dar o
desligamento/rompimento de tal prática?
Dom Gabriel: Não consegui
entender essa história de dominação psicológica ainda. A relação de
dominação-submissão é, por natureza, psicológica. Acho que o que definem como
essa DP é mais "abuso psicológico" que dominação. Entrar na cabeça de
alguém, dobrar à sua vontade, conquistar, são coisas relativamente simples
quando a pessoa está disposta à isso. A "DP" é uma forma de driblar o
querer da outra pessoa e forçar a entrega. De tudo que vi até agora sobre isso,
vi chantagem, tortura psicológica, privação de convívio social... Os danos de
qualquer relação assim (pq isso tb existe no baunilha) são gigantescos e o
rompimento teria que ser muito lento e gradual pra evitá-los ou, pelo menos,
mitigá-los.
(O Marco tem um texto maravilhoso sobre isso que serviu pra confirmar o
q eu já pensava)
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Helena Pimenta: Como o Senhor
percebe os praticantes com quem convive/interage, quais os valores que
adota/admira e os que não lhe agradam? Tem algum tipo de postura que lhe causa
uma sensação ruim, entre Tops, ou bottom´s ?
Dom Gabriel: São pessoas
sensacionais, Helena. Cada um com seu jeito e personalidade, mas todos
apaionantes à sua maneira. Os principais valores? Acho que são os que eu já
prezo em mim mesmo... honestidade, lealdade, amizade... Acho que a única coisa
que me incomoda é a hipocrisia em alguns detalhes, principalmente com a
história de preconceito/aceitação de práticas e estereótipos físicos (mas que
não vem ao caso).
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Bia Baccellet: Pode nos dar
sua impressão sobre a Dominação Virtual? Como vê esse tipo de prática?
Dom Gabriel: Acho que é um
bonus, Bia. Entendo isso como só mais um acessório pra relação D/s. O que não
pode é ser uma prática autossuficiente e cujo foco da relação seja um
computador com webcam.
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Cerberus Carvalho: E como interpreta
os relacionamentos a distancia?
Dom Gabriel: Não vejo problemas,
desde que haja fidelidade e honestidade,Cerberus. Infelizmente, pra que isso
aconteceça, ambas as pessoas devem dar atenção à estes pontos, devem querer
fazer o esforço pra que perdure e melhore e, principalmente, devem ser
pacientes. MUITO pacientes.
Infelizmente, esse tipo de perseveraça é raro hoje em dia e, caso um dos
dois não esteja tão disposto quanto o outro, a relação estará fadada ao
fracasso.
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Marcinha Devassa: O senhor
dominaria um sub homem?
Dom Gabriel: Marcinha, a
priori, não. BDSM é, pra mim, uma extensão do sexo então, não dominaria um
homem.
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Dom Daniel: Eu pessoalmente
gosto da dominação, com ou sem violência. Você tem algum interesse nisso? E ali
em cima você falou de dominação psicológica (DP - essa sigla me lembra outra
coisa). Você acha que a disciplina envolve algum nível de DP?
Dom Gabriel: 100%
interessado nisso, Daniel. rsrs tb me lembra outra coisa. hahaha
Acho que, num nível bem basal, envolve sim. O que chamam de dominação
psicológica eu entendo como castigo. Dar um gelo, deixar a pessoa "no escuro"
sem saber se vc vai falar com ela em 2 minutos ou 2 dias, fazer uma
chantagenzinha de leve, acho que funcionam como ações disciplinatórias, mas
devem ser pontuais.
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Helena Pimenta: Senhor, quais
os valores que busca em uma possível posse?!?!
Dom Gabriel: Honestidade,
lealdade, vontade de se superar, disposição pra servir e obedecer,
companheirismo e, primordialmente, inteligencia. Ah! óbvio, ela tem que gostar
das mesmas coisas que eu, ou, no mínimo, estar disposta a experimentá-las.
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Caio Flavio: Dom Gabriel,
você é um dos poucos entre muitos e o único entre meu rol de amigos que se
assume "iniciante". Te admiro por isso como já falei outras vezes
(digno). Como você pensa em conduzir uma D/s de modo que o nível de
profundidade da relação não ultrapasse os limites da sanidade? Teme se perder
em sua dominação ou sente-se completamente seguro para iniciar um D/s?
Dom Gabriel Obrigado pelo
elogio! Rsrs Excelente pergunta, Caio. Sinceramente, não faço ideia. Acho que
manter o jogo aberto 100% do tempo seja o ideal. Óbvio que um detalhe ou outro
pode ser momentaneamente omitidos, mas não podem ficar escondidos pra sempre
(e.g. uma ordem que pareça muito doida a princípio, mas que tem um motivo).
Ainda assim, acho que existe o perigo da loucura. Se podem ocorrer no baunilha,
com certeza absoluta podem acontecer no BDSM. Estou certo de que, em algum
momento isso pode vir a acontecer.
Sinceramente, acho que qualquer dominador sensato - tenha ele 3 meses, 3
anos ou 3 décadas no meio - tem esse medo. E, trazendo uma questão de lidar com
predadores como vida profissional, o medo é justamente o que impede que um
bicho coma a sua cabeça ou que vc cometa erros muito drásticos em um
relacionamento tão deslumbrante quanto uma D/s.
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Bia Baccellet: O que acha
das(os) Switchers? Pode nos dar sua impressão?
Dom Gabriel: Acho-os
pessoas interessantíssimas, Bia. Aproveitar os dois lados de uma coisa muito
legal deve ser excelente e, eles só trazem pra visão sexual algo que todos nós
fazemos diariamente na vida profissional e/ou familiar, que é submeter pessoas
e ser submisso a outras. Infelizmente, poucos que o são tem coragem de assumir
(mas fica a ideia pr# próxim# entrevistad#!)
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Helena Pimenta: Senhor, como
encara as negociações? quais os meios para uma boa negociação?
Dom Gabriel: rsrs, de novo:
honestidade, Helena. Cartas na mesa e jogo aberto o tempo todo. Como vovó
dizia: "o combinado nunca sai caro". E um outro ponto também: saber
ceder. "A vara que se dobra não se quebra". rsrsrs
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Helena Pimenta: Aproveitando o
gancho e a idéia para a próxima entrevista....rs... vou adiantar e perguntar, o
Senhor, dentro de uma relação SM, tem a curiosidade de explorar o outro lado do
chicote (não necessariamente chicote...rs)? mesmo que por pura brincadeira?
Dom Gabriel: Bom... eu gosto
bastante de ser arranhado durante o sexo, então... rsrsrs
Eu me permitiria ser amarrado/algemado/etc prum jogo de sedução e,
esporadicamente eu gosto de "dar o poder" pra mulher poder fazer o
que quiser na cama (que, confesso, é exatamente naquela hora que bate um
cansaço ou uma preguiça de ficar em uma posição X. hahahahaha), mas sempre dando
a ordem/autorização pra que isso aconteça. E, via de regra, cada coisa que eu
pretenda usar, eu testo em mim, mas isso é básico prum dominador, né? rsrsrs
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Marcinha Devassa: O senhor é a
favor da criatividade do dom em assessórios p sessão. Ou prefere comprar?
Dom Gabriel: As duas coisas,
Marcinha! Aliás, ultimamente tenho me pego pensando bastante em confecção de
materiais que é um meio termo... Mas estou aqui feliz e contente com uma Cane e
uma tala de equitação que acabaram de chegar. E imaginando bastante os efeitos
de um cinto específico ou de um flogger que tenho pensado em fazer... Aqui no
"braziu" nós precisamos ser criativos, pq, sinceramente, o que se
encontra vendendo por aí é vagabundo demais e muito caro...
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Lucy De Dom Daniel: Dom Gabri, você
se considera exibicionista?
Dom Gabriel: Sou um pouco,
Lucy. Gosto que as pessoas saibam das minhas vitórias. E, sejam fotos na rede
social pra serem curtidas, sejam gritos pela janela, é divertido saber que
alguém pode estar passando na rua e pensar "a coisa ali tá boa,
hein!". rsrsrs
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Bia Baccellet: Qual sua
opinião sobre irmãs de coleira? E sobre canil?
Dom Gabriel: Acho que 2 ou
mais mulheres juntas fazem parte da fantasia de todo homem. hehehe E uma, duas
ou mais mulheres se submentendo devem fazer parte da fantasia, se não de todos,
de boa parte dos dominadores. Mas as duas têm que se dar bem, senão a coisa não
se sustenta. Hoje em dia, não teria um canil ainda, mas se daqui a 10 anos o
tabaco não tiver me carregado, quem sabe como estarei? rsrs
Dom Gabriel: Só pra
complementar a última resposta: no baunilha eu já tive a oportunidade. Devo
confessar que estou ansioso pra quando ocorrer a chance de ter 2 inteiramente à
disposição pro meu sadismo em um ménage BDSM. rsrsrs
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Caio Flavio: Dom Gabriel,
você tem um perfil traçado de submissa (físico e intelectual) que lhe agrade ou
esses fatores são de pouca significância?
Dom Gabriel: Físico: Eu não
sou muito chegado a magrelas, rsrrs Acho que de "normal" à gordinha,
tá valendo. A pessoa tem que ser sexy e bonita (rosto). É o principal.
Não precisa ter isso ou aquilo grande ou pequeno, gosto do
"conjunto da obra". Prefiro morenas a loiras, e ruivas são o desejo
de todo homem. rsrsrs E prefiro baixinhas a altas. Mas, como disse ali em cima,
sendo sexy, tá valendo.
Intelectual já é mais complicado de definir pq se mistura muito com a
personalidade... Mas uma pessoa que goste de ler, que ouça boa música (se
gostar de fanque, já tem uns 50 pontos negativos), que possa e goste de
conversar sobre vários assuntos. Bom humor é essencial. Resumindo: uma pessoa
interessante. Dominar uma mula com Down não tem graça... rsrsrs
ADENDO: Quero deixar claro que, na última linha da
resposta anterior, em nenhum momento tive a intenção de ofender portadores de
Síndrome de Down. Caso tenha se sentido ofendido, peço desculpas.
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Bia Baccellet: No início de
seus estudo do BDSM, o que mais chamou sua atenção?
Dom Gabriel: A falta de
material de estudo em português e a dificuldade de encontrar material até mesmo
lá fora. Pra quem está iniciando, é tudo muito "secreto" e de difícil
acesso. Uma vez que encontre um bom site, este leva a outros e por aí vai, mas
em português, foi chocante ver como o meio ainda é carente de informações.
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Caio Flavio: Aproveitando o
gancho: Você acha que o excesso de informações, desde blogs, livros literários
e outros poder deturpar o meio?
Dom Gabriel: A princípio,
não. Ou, pelo menos, não pra quem sabe pesquisar e tem interesse em conferir
informações. Prum iniciante, ter um mar de sites/blogs/revistas digitais e
físicas, pode ser bom pra se encontrar no mundo, mas pode gerar confusão por
ideias conflitantes. Nós temos a tendencia de desistirmos das coisas que vemos
muito, de achar que "perderam a graça", então o excesso pode vir a
trazer este lado negativo de banalizar um pouco, mas não é nada que vá
"machucar" o meio e/ou os praticantes que realmente se sentem e fazem
parte do BDSM.
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Caio Flavio: Dom Gabriel,
você observa muito preconceito por você se declarar iniciante? Se sim, como
você lida com isso?
Dom Gabriel: Caio, sim, mas
nunca é aberto. Dá pra sentir que quando algumas pessoas lêem/escutam a palavra
"iniciante", automaticamente surge um carimbo de
"rejeitado" na minha testa. Rsrs A reação varia... depende do meu
humor. Vai de "toco o foda-se" pra "bando de hipócritas, acho
que essa porra não é pra mim". hahahhahaah
Mas, no geral, deixo passar pq eu sei que, mais cedo ou mais tarde, o
mesmo respeito que vc tem por eu falar a verdade virá de cada vez mais gente, e
aí tudo de ajeita. Rsrsrs E, quem sabe, um dia eu largo meia dúzia de
chicotadas em quem desdenhou no começo., hahahaha
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Marco Bauhaus
Mishima: Explorando o tema... Já esbarrou com alguém com conceitos
totalmente fora do razoável sobre o BDSM (sendo praticante ou não)? Se sim,
como eram os conceitos?
Dom Gabriel: Pergunta
complexa, Marco... Ainda não encontrei ninguém assim e talvez seja preconceito
meu, talvez seja só por ser meu limite, mas alguns níveis de sadismo ou de
práticas fetichistas estão fora do que eu consigo aceitar como BDSM hoje em
dia. Castrações, fezes, torturas genitais, golpes exagerados no rosto/cabeça...
acho que essas práticas saem de qualquer nível de segurança/saúde, independente
de ser consensual, de ser risco conhecido, etc...
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Caio Flavio: Entrevista
encerrada! Agradeço ao Dom Gabriel pela pela disponibilidade e tomo a liberdade
de parabenizá-lo pela postura. Boa noite a todos. Até semana que vem!
Dom Gabriel: Obrigado a
todos que perguntaram e à Bia Baccellet pelo convite.
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